sábado, 16 de abril de 2011

Teatro Popular

Acho que não saberia representar tao bem outro papel senão o meu de ser quem eu sou. Tanto tempo em cartaz que já sei de cor todos os pontos onde melhorar e tudo o que a critica tem pra dizer. Toda essa plateia inconstante, que me acompanha, faz do espetáculo algo cada vez mais deslumbrante. Esse escarcéu descontrolado de idas e vindas, pobres atores contratados para contracenar num papel tao miserável, cujas cortinas podem fechar-se a qualquer instante, começam a me incomodar.
Doce ilusão de se apresentar tantas vezes ao ponto de não precisar mais ler o roteiro! Nesse teatro ludibriado vou levando a arte de saber o que eu sou através de criticas deslavadas publicadas na folha de um jornal qualquer no dia seguinte a encenação. Dizem que o bom artista se apresenta sem preocupar-se com criticas, mas ha falhas nesse pensamento. Como se aperfeiçoar sem um toque de um outro alguém?
E num alter ego de mim mesmo vou juntando os meus pedaços e jogando pelo acaso afim de alcançar um visionário qualquer do teatro municipal. Mas que desgraça, enquanto me apresento no meu teatro popular num papel miserável e secundário, na vida que se intitula minha, vem um pobre animal e se joga as tracas afim de chamar toda atenção; atenção que era minha.
E as luzes se fecham no animal que se contorce todo tentando conseguir mais atenção a cada grito, mas no final ele morre. Foi um desejo tao grande de ter toda atenção que ele se esqueceu que se jogou as tracas. A luz então se fecha, fade out. Começa outra historia dentro de uma vida toda minha. Demora, mas ela chega mansa com outros personagens diferentes e façanhas novas para virarem historias.
Nesse teatro louco e ludibriado vai criando-se historias do acaso e caso eu me junte a ser quem sou nesse momento eu jamais saberia a dor de fecharem as minhas cortinas.

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