segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ausência

"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei… tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada". Vinícius de Moraes.

domingo, 30 de outubro de 2011

04:04 am - Desencontros

Não sei por que eu insisto em acreditar nestes olhos imaculados de paixão. Olhos árduos, famintos e sedentos que nada querem alem de pouca palpitação. Eu hoje me sinto forte, aguento tudo que me jogas, aguento toda dor, mas aguento calada, não vou dizer em hipótese alguma, não vou admitir nem que me julgues com estes olhos, jamais direi que dei-lhe a mão por outros motivos. Hoje, nesse momento, me sinto perplexa! Olho-te aos prantos como quem olha a agonia de quem sofre desesperado, olho-te com desejo reprimido e calado. Eu nesse momento dou risada, dou risada da desgraça de não ter-lhe. Dou risada da pouca ironia do tão destemido destino, dou risada do momento, da lerdesa e insensatez, dou risada da sua carência! Vejo essa verdade como vontade reprimida, mas saiba que a partir de agora eu lhe trato com todo amor que jamais pude sentir, com todo amor que eu não nutri e nunca hei de ter por ti. Hoje lhe trato como alguém que realmente faça parte da minha vida de forma significante. Venha, me trate como alguém que lhe tratarei como alguma pessoa. Eu tenho tudo que eu quero, eu realmente tenho! E agora depois de mais o menos duas horas de conversação tudo parece ter ficado mais claro! VOCÊ É UM MIMO! Eu querer ficar com você é apenas uma vontade que você não satisfaz e por isso eu ainda a conservo, ou conservava. Mas você vai ver, hoje eu falei, falei de tudo e todos os anos, falei de todos os sentimentos, eu me abri e não foi pra qualquer um. Consigo ver tudo de uma maneira diferente, sinto o seu cheiro em mim e não sinto exatamente nada que eu sentia como antes e olha, eu cansei, cansei de você, cansei de ter que falar que não! Sim, eu já te quis, mas não digo porque jamais te darei moral, você merece tomar na cara, merece aprender que nem todo mundo te quer da forma que você imagina. Respeito toda a sua auto-confiança, assim como eu respeito a minha, mas nem todo mundo te quer e nesse momento eu te quero, mas te quero LONGE, não por ter-me negado, mas por achar que o mundo se rende aos desejos teus. Hoje eu me sinto livre e defenderia qualquer coisa por saber que o desejo se foi! Mas o pensamento atordoa: eu menti e ele também pode ter mentido. E ao mesmo tempo eu acho que defenderia tudo, me jogaria sem sentir dor alguma, eu defenderia qualquer coisa para esquecer que eu falei abertamente sobre meus sentimentos.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Devaneio

Faz frio aqui, mas eu não consigo saber de onde vem, talvez seja do coração, talvez ele de fato tenha petrificado, talvez eu esteja congelando aos poucos sem saber, mas eu queria que você soubesse que pensando em você eu me mantenho aquecida, eu me mantenho focada e obstinada a continuar mesmo sem você. Você se foi e me deixou a saudade, essa que me dói no peito e que lateja na alma. Minha querida, sabes que tu sempre serás aquela a quem dedico meus chamegos, não sabes? Eu estava acostumada a ser teu porto seguro, acho que ainda não me acostumei com a ideia de não poder mais ajuda-la e ve-lâ sofrer assim é tão ruim, ter que abraça-la apenas assim num espaço de uma rima, isso me instiga a querer me manter afastada. Sabe todas essas vezes que me afastei? Todas essas vezes que fugi sem dar notícias? Tudo por causa desse aperto latente, essa felicidade descontente de te ver sem poder te ter. Ei minha querida, os meus olhos ainda lembram de ti, os meus lábios ainda sorriem involuntariamente a cada lembrança dessas e meu coração ainda bate descompassado quando escuto notícias sobre você. Ei pequena, eu te amo tanto que duvido desse amor e o julgo falso e descontente e desisto toda vez que chego perto de reconquistá-la. Eu te afasto porque não suporto a idéia de tê-la por perto sem morrer de felicidade. Mas ei, eu não te cobro nada, estejas ciente que me aproximo sem nenhuma intenção, sem nenhuma expectativa, as deixei pelo caminho longo que percorri, as deixei no exato momento que soube que tuas mãos não mais encontrariam as minhas e os espaços por entre os meus dedos não seriam mais preenchidos pelos teus delicados dedos minha menina. Hoje eu te amo com um pouco mais de paixão que ontem, hoje eu lhe anseio com menos vontade, hoje eu deixo mais uma parte de você esvair-se por entre toda a fumaça que dissipa de um cigarro. Mas pequena, lembre-se que o meu afeto por ti é de forma desnaturada e é terno! É especial tudo isso que eu não consigo explicar numa conformidade linear, e é teu. Sempre será teu todo esse desconcertante devaneio.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A verdade pelo avesso

(pensamentos entre parenteses)

(-Oi, tudo bem? muito formal.
-Hey, eai como ta? muito forçado.
-Hey, como você está? muito igual ao outro.
-Oi, está bem? acho que está simples demais, preciso parecer mais interessado.
-Socorro, lá vem ela e agora?)
Você passa de longe e eu sufoco por um segundo e eu entro em pânico e passo ao seu lado e ignoro, sem perceber, como se você não fosse ninguém, como se fosse só mais alguém, mas você não entende, eu sufoco de desejo de lhe proferir intermináveis conversas e a toda hora tento lhe chamar atenção, será que você não vê ou será que eu é que preciso me expressar de outra forma mais aberta e clara?

- Er, oi, e ai, bão? (droga, estraguei tudo)
- bem
- E ai, o que tem feito? (Como assim o que você tem feito, que tipo de pergunta idiota foi essa? Quero saber como anda os problemas, se precisa de algo ou de alguma ajuda, se tem acompanhado os filmes e seriados que eu comento ou se tem planos pra quando serão realizados os nossos planos)
- Nada de mais e você?
- Ah, o mesmo! (Ah, ótimo, agora sou entendiante, não faço nada de mais! Por que eu não digo que eu penso nela todos os dias, mas ela vai me achar bobo, eita e agora, o que eu falo, cara ela está cheirosa e esse sorriso da onde surgiu? Será que ela andou malhando, as pernas parecem mais definidas que da última vez, ta o que eu tava falando mesmo? ah, meu amigo ali, vou ir dar um oi)

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(Por que eu virei as costas assim do nada? Ela vai pensar que eu não me importo, porra, como eu falo que ela é tudo que no momento me deixa mais feliz? Vou voltar, agora vai)

- E ai, voltei, nossa tava te olhando de longe e você é lerda demais e tem uma risada esquisita, mas acho você de boa. (É só um pouco e na verdade esse é um charme seu e essa risada que acompanha grande parte das palavras proferidas e você é muito de boa, mas não sai isso agora da minha boca)
- Credo, e ai, vamos sair no sábado então? E aquelas coisas que iamos fazer, ainda de pé? Ah, eu estava com saudades, vem ca e me da um abraço.
- Vou ver, está sim. Sem abraços, que melação é essa. (Como assim vou ver, é claro que vamos sair no sábado e sim tudo está de pé e mais óbvio ainda é o abraço, é claro que te dou um abraço, dou quantos quiser, quanto mais perto de você mais é a chance de esquecer que tem um mundo todo esperando que eu saia do conforto destes braços).
- Sempre me tirando.
- Ah, é a vida. (Que vida o caralho, me desculpa, eu não sei o que acontece quando eu chego perto de você, mas sai tudo ao contrário e eu pra falar a verdade nem sei como ainda consigo manter o ritmo da respiração e desviar tanto o olhar porque você fica linda sob esse angulo e tantos outros e apesar de as vezes estar meio acabada você me cativa de um jeito meio único).
- Então, eu vou ir ali, tenho umas coisas para fazer, te vejo por ai.
- Tá, tchau. (Tchau? TCHAU? Que isso? Quem diabos fala tchau pra uma "paixão em potencial"? Você é burro ou o que? Fica, fica ai e vamos conversar, eu tenho visto uns filmes legais que eu queria compartilhar, eles são maneiros e tem uns seriados que estão fodas demais e também tem umas coisas que eu queria sua ajuda e vamos marcar algo depois, e ah eu queria te passar depois um mix de umas músicas ai que eu curto, depois me passa umas que você curte... Só não vai, fica ai porque até o silêncio compartilhado contigo é diferente).

E a cada passo mais longe de mim é um passo a mais pra eu perder algo que supostamente eu já tenha conseguido. Eu não ligo, eu não me importo, você não tem nada a ver, não tem atitude, é defeito demais, não combina comigo, não tem o corpo certo, ah seu discurso sobre relacionamento não me agrada, mas ao mesmo tempo seu sorriso é o mais lindo, sua companhia é a mais confortante e o olhar, ah são arrebatadores olhos de cigana oblíqua e dissimulada prestes a me dominar. Ah, já te disse que eu adoro a forma como pronuncia meu nome? A forma como fica repetindo-o como se não tivesse mais nada pra fazer, e de fato não tem, a forma como te deixo aparentemente nervosa, são essas peculiaridades que me instigam. O problema de todo esse avesso é que me lendo sempre assim descompassado eu não tenho um jeito certo nem tampouco errado de te dizer calado de todo esse amor neutralizado, sim porque amor é emoção e essa emoção, esses efeitos colaterais você com certeza provoca em mim embora eu consiga disfarçar tão bem ao ponto de me enganar.